terça-feira, 3 de junho de 2014

A terra e a Enxada

 Uma vez a enxada disse a terra:
- Você não seria nada sem mim.
- Por que, eu não preciso de ninguém para viver?.
- Não precisa! Você que pensa...
- Se não fosse eu, você era toda cheia de mato, urtiga, matinhos sem futuro, que não dar frutos.
- Faça-me o favor, deixe-me.
- Porque faça-me o favor e deixe-me?
- Não gosto deste seu ar, arrogante, por quê você se acha a última coca-cola do deserto, o último biscoite do pacote.
- Mas! Não é verdade? Eu sou quem cultivo as sementes que planta em você,sou quem fofo a terra para fortificar seu solo, e quando vem aqueles matinhos que te deixa feia, eu sou quem limpo queridinha!
- Não faz mais do que sua obrigação! Afinal  lhe destinaram para isto, para limpar sujeiras, é como a vassoura.
- E você para acumular.
- Por favor me deixe em paz, a senhora não tem o que fazer? Coisinha feia, eu sou toda plana, e você é horrível parece uma tripa, comprida e com uma cabeça feiosa, cortante, se não estiver na mão de uma criatura certinha vira assassina.
- Com certeza sou cortante.
- Sabe por quê?
- Por que palito de virar tripa?
- Porque sou limpa, magrinha e tô na moda.
- Tá bem...Eu sei que sou uma bola, com um poder enorme abrigo tudo, e você é minha serviçal, mesmo que não queira você é obrigada a me deixar forte, bonita, suculenta e viçosa. Tem mais se eu quiser destruo tudo inclusive você coisinha insignificante.
A enxada se retirou aborrecida, foi embora nas costa do seu dono e com ar desprezível. A terra ficou lá sozinha com seu seu narizinho petulante, passou dias e aja a criar mato, urtiga, um capim bem rasteirinho impedindo de respirar, e a enxada passava pra lá e pra cá, não dava nem cartaz para terra.
- Ei, psiu! olha estou criando mato, essas raízes não serve pra nada, elas são plantas que não alimentam,  desgraça nosso solo.
- É... estou vendo, estás feia hein...Mas, se preocupa não, vai chegar o sol e logo essas plantinhas vão morrer e você fica bem.
- Não, a urtiga resiste ao sol e o capim me deixa sem respirar bem, preciso de limpeza, estou sem trato e sem trato fico sem vida.
- É, eu não posso, sou magrinha, sou pau de virar tripa, tenho a cabeça cortante e você estar muito sofridinha não vai aguentar não.
- Venha cuidar de mim.
- Não...Sou magrinha demais, e além do mais estou de férias.
- Venha! Senão quando esquentar eu  vou rachar, abrir uma vala bem grande e enterrar todo os objetos que estiver em cima. E veja bem você precisa bem mais... para pisar, plantar, colher, as raízes das plantas recebe do meu solo o suco que alimenta a seiva delas. Ou você me trata bem eu vou destruir tudo. Eu posso! Eu tenho o poder, não á vida sem mim.
- Então  faremos um pacto...Me peça desculpa, e eu volto a lhe tratar.
- Magrela, você não tem escolha, ou você volta a me tratar, ou eu acabo com tudo.
- Mas nem uma desculpa você vai me pedir?
- Magrela... eu  me movimento, giro, eu tenho poder, o que eu posso fazer é lhe tratar bem...Mas lembre sou mais forte que você, você nunca vai poder comigo.
A enxada saiu pensativa, caladinha e resolveu voltar logo do caminho: Vá que ela se abra mesmo se revolte e resolva acabar com tudo.
- Voltei, vou tratar de você, mas vou lhe dizer...Um pouco de humildade não faz mal a ninguém mesmo com todo esse poder, você também precisa de mim.
- Prometo tratá-la bem, por educação, sutilezas... Lembre-se que sou poderosa e se você não pode lutar contra, se una a mim.
- Lembre-se também que a senhora não vive sem os subalternos.
- É...Seja mesmo uma enxada e não uma inchada.
A enxada ficou caladinha, cumpriu seu destino...Arar a terra, e se uniu a ela, já que nada podia fazer.


Obs. Falar dos poderosos é risco, se não pode com eles o melhor é se unir.

Um comentário:

  1. Divinamente lindo,
    Você é sensível demais minha amiga linda..
    Como sou feliz em poder ler seus escritos...
    Talento, humildade, és um ser iluminado..
    Obrigada querida por essa beleza de crônica.. Desejo-lhe muitas bênçãos..
    Parabéns!

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