quarta-feira, 28 de maio de 2014

PILUQUINHO

          PILUQUINHO E SUA AMIGUINHA SANDÁLIA...  Nasceu no Nordeste. Seus pais, moradores de uma  fazenda de 1.500 hectares, altamente produtiva, com irrigação, cuja agricultura cultivada era de abacaxis. Os pais nasceram lá e a lida da roça vinha de família. Trabalhadores direitos, criavam os filhos diferente de como foram criados, estudando...  Os donos da fazenda, boas pessoas. Tratavam seus trabalhadores com muita dignidade.
          Todos os moradores trabalhavam de carteira assinada, tudo certinho, como manda a lei. Na fazenda havia uma escola muito bem equipada, com recreação para as crianças e alfabetização à noite para os adultos...  Na colheita, todos os moradores juntavam as família para ajudar e recebiam a mais. E cada morador tinha cinco hectares de terra para cultivar o plantio que quisesse.
          O comportamento e a comunicação, os embates com o patrão e seus familiares, uma verdadeira harmônia. Mas isso não é comum. De todos os patrões, muitos não estão nem ai para o bem-estar dos trabalhadores. Visam só os lucros, e quando se envolvem com a política, paciência...  Com bom exemplo, você sempre consegue impor as condições sem precisar de tanto argumento já que tudo é feito certinho.
          Nessa história de todos terem cinco hectares de terra, um dos moradores começou a cultivar algodão. Vendia para as fazendas vizinhas e se achou no direito de impor algumas condições, pedindo para diminuir as horas de trabalho. Insinuava para o patrão que cultivar o algodão era mais rendoso. Insistia para comprar os hectares ou os arrendar. O patrão cedia os hectares para plantar enquanto eles são empregados. Isso era uma maneira de agradar para que eles trabalhassem com mais prazer.
          Trabalhar em paz é uma conquista. Ter bons patrões é um prêmio, principalmente quando se trata de trabalhadores agrícolas. Durante muitos anos a fazenda foi conhecida como grande produtora de abacaxis. Tradicional, era conhecida também pela serenidade entre patões e empregados.
          O empregado que cultivava algodão pediu as contas. Não foi novidade para os outros. Dias depois souberam que ele tinha se juntado ao movimento sem terra (MST). Os Pais de Piluquinho ficaram preocupados. Comunicaram ao patrão para que ele tomasse cuidados. Ele não deu importância por se tratar de uma propriedade produtiva.
          Nem sempre estamos livres de ovelhas desgarradas. Quando não vem de dentro, vem de fora, do nada. Quando tudo parece estar na mais completa tranquilidade, a fazenda é invadida por um grupo imenso. Destruíram plantação, botaram tratores por cima das casas dos moradores. Sabiam, exatamente, a hora em que os moradores não estavam em casa. Quando a polícia chegou, tudo já tinha sido tudo destruído. Uma pena...   A plantação de abacaxis pelos ares, os moradores perderam tudo. Os patrões, presos em casa, com sua família, sem poder sair. Presenciar um descontrole desses...   Difícil para as crianças entenderem. Pessoas ensandecidas sem motivo e com direito de destruir a propriedade alheia. Ficaram um mês até a justiça decidir. Nesse período, construíram barracos, o reservatório de alimentos armazenado na fazenda eles tomaram conta, como se fossem donos, tanto usavam como estragavam.
          O dono ganhou a causa por realmente ser uma terra produtiva e por ser uma fazenda conceituada, já que os patrões tinham bom relacionamento com os moradores. A justiça quando quer, é justa. No mesmo dia em que os oficiais de justiça chegaram para tirar os invasores, o morador desgarrado pegou o trator e foi para cima da casa grande, onde o dono estava no momento recebendo os oficiais...   O pai de Piluquinho, junto com os moradores, deram as mãos e foram para a frente do trator. Piluquinho gritou: - Saia papai, ele vai passar por cima!!!  Não deu outra, ele não parou e jogou o trator por cima. Se você percebe que alguém está descontrolado, não duvide do que ele possa fazer. Fique esperto que nem sempre dá para apaziguar a situação. Impulsos, veneta que ocorre até com pessoas equilibradas, tranquilas... É compreensível, mas em uma proporção destas! Piluquinho viu seus pais morrerem, moradores feridos, gente do próprio grupo deles. Ele só parou porque a polícia atirou nos pneus. Tudo isso gerado por ambição, só por ambição...   Sem mais nem menos. Esse morador chegou na fazenda sem nada, como todos os outros, mas achou pouco o que o patrão fazia. Queria mais, queria ser o dono e pessoas ambiciosas é um perigo. São dragões...   Ficar esperto com este tipo de gente é bom...   E manter distância. Se tiver de conviver, ter todo cuidado possível.
          Para Piluquinho, entender tamanha crueldade era difícil. Saber o porque de tanta violência sem motivo...   Os patrões ficaram arrasados, perderam o amigo. O melhor empregado, o braço direito deles. Se sentiram culpados. Não tinham culpa, ele era tão vítima quanto todos. Piluquinho guardou a única lembrança que sobrou de seu pai e que para onde ele ia, levava. A sandália. A sandália tornou-se sua amiga inseparável. Até hoje a guarda como a uma relíquia...   Ficou sendo criado pelos donos da fazenda. Veio para a cidade estudar e seu sonho era ser advogado. Teve todo carinho e boa educação, entrou na Universidade de Direito. Formou-se, advogou por mais de cinco anos, prestou concurso e passou para Promotor de Justiça. Como sempre, o mundo gira. Como Promotor, pegou uma causa de desapropriação de terras. Na audiência, o acusado era um senhor que logo lhe veio as lembranças. As lembrança do seu pai. Lembrava daquele rosto de algum lugar. Por incrível que pareça, o senhor não lhe era estranho...   E sua memória lhe mostrou logo quem era aquele senhor...   Era o mesmo homem que dirigiu o trator e sem piedade o jogou por cima de seus pais e de outros moradores que ficaram paraplégicos por causa dele. Ele estava ali, bem na frente dele. Velho, mas do mesmo jeito, com as mesmas falcatruas, querendo se apossar de terras dos outros. Ele nem sabia que aquele promotor que estava ali escutando suas histórias mentirosas era filho do casal que morreu de mãos dadas defendendo seus patrões. E como tudo não fica impune, um dia a vida apresenta as contas. E ele voltou para a cadeia de onde nunca deveria ter saído.

2 comentários:

  1. Amiga Adriana Versus essa é uma hitória triste, mas que muito real, Eu trabalhei num grupo de várias fazendas, lá pro lado Maranhão, onde aconteceu invasões de terras pelo movimento dos sem terras, só que aconteceu o inverso o Dono das Fazendas muito experiente com relação a esses movimentos já possuia um grupo de pessoas destemidas ao confronto e quando acontecia alguma invasão esse grupo de pronto durante a noite fazia a espulsão dos invasores mediante tratores de arados e e soltava bombas de rojão e o povo saiam correndo abandonando os pequenos pertence e que estes eram juntados e ateados fogo e queimavam tudo e pela manhã os tratores faziam a remoção dos entulhos e a terra ficava limpinha e a fazenda acionava a policia para vistoriar as invasões ocorridas. Sempre haverá uma história com fundamento dessa natureza de humanos motivados por politicos reacionários em lograr beneficios outros. Lindo amiga o seu texto de Patrões e empregados numa união e relações de trabalhos e partilhas de beneficios demonstrando uma grande familia onde os objetivos eram mútuos e não havendo a ambição desmedida por esse patrão que se pode até dizer PaiZão. Esses conflitos continuarão a existir por esse mundo de Deus, em função da ganancia do próprio homem animal que não consegui criar então parte para destruir o outrem conseguiram. Triste isso. E a justiça sempre se fará cedo ou tarde e os culpados serão penalizados e chorarão o leite derramado. (Agora é tarde).
    Grato amiga pela oportunidade de deixar uma comentário.
    Newber Macieira - 29/05/2014 as 21:47hs.
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  2. Infelizmente o mundo está repleto de pessoas dessa natureza má..
    Mas, sempre acreditei na justiça divina, onde o mundo gira assim como no final do texto esse ser do mal que destruiu a vida de pessoas inocentes, teve o castigo merecido...
    Amiga Adriana,
    Amo demais seus textos publicados, eles nos levam a reflexão.. Isso é muito bom :-) acredito minha amiga, que a justiça nunca falha e pessoas assim gananciosas não ficam felizes muito tempo..
    Obrigada minha querida, pelo belíssimo texto!

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