sábado, 17 de agosto de 2013

NAS PASSAGENS DAS RUAS E AVENIDAS

À noitinha muitas coisa já começam a acontecer. Todos saem em busca de alguma coisa. Se vai à padaria ou fazer alguma compra em supermercado, é assim a rotina de cada fim de tarde. Todas as pessoas seguem as mesmas rotinas de sempre. Porque quem não tem, passa é fome, mesmo.
Na minha rua nada de mais acontece, mas quando acontece não fica por menos.
Quarta-feira agitada, tenebrosa, assalto na padaria, que lamentável. O dono não se conforma, quando os ladrões saem ele pega a caminhonete e vai atrás, com arma em punho, dirigido feito um desorientado. Ainda
alcança os marginais, e o que é pior, bem na minha rua, logo ao lado do terreno baldio. Me assusto, estou nos meus aposentos, mas o meu filho adolescente corre para a janela.
- O que é isso, meu filho ?
- Tiro, bem aqui ao lado do nosso prédio.
- Então sai da janela!
- Não, quero ver o que é.
- Saia da janela! Cuidado, pode vir uma bala perdida.
- Não, estão atirando de uma caminhonete preta. O que será ?
- Com certeza é ladrão.
- Eu vou lá olhar.
- Você é louco ?!!! Daqui você não sai!
- Mas eu quero saber o que houve.
- Pense se isto é importante, ver o tiroteio!
- É, não vou, e vou sair da janela. Depois a gente sabe o que aconteceu...
É assim que estou vendo minha cidade que era tranquila, pacata, se transformando numa guerra civil. Ponto de ônibus que não se pode ir, que volta até descalço. Somos reféns dos inconscientes que, sem precisão e só levados pelo consumismo, são impulsionados a roubar.
Daqui a pouco não poderemos mais chegar em casa que os importunos tem tomado conta da nossa moradia. E vão nos dizer: - Só entra aqui no final do mês e com o dinheiro. Se não trouxer, morre. É assim que estou vendo minha cidade.
- É... Isso vou guardando na minha mochila. Guardando o que um dia poderei escrever com canetas da alma. Minha alegria, que é intensa para facilitar a lida, que se torna muito cansativa e difícil. Vou fazendo laços no sol tomando minhas lições, riscando os fósforos, queimando as agonias que passam por mim.
Na minha estrebaria consigo espantar meus diabinhos, que me importunam de tanto medo.
- Bem, Mamãe, saí da janela. Não precisa ter tanto medo. Nenhuma bala perdida me pegou.
- Não diga isso nem de brincadeira!
- Fica bem. Vocês, mães, inculcam demais.
Vejo bem como os adolescente nos veem, eles não tem a noção do perigo. Acham que nunca pode acontecer nada com eles e nem com ninguém da família.
Às vezes saio com uma tensão forte, mas logo penso: - Tenho que viver, pensar positivo. E quando você pensa positivo, muitas coisas boas acontecem. Por exemplo, estou louca para conhecer um piquenique. É simples né, mas eu nunca fiz um piquenique. Quero água cristalina, cachoeira, mata verde, um campo de flores. Saio da cidade, vou ao campo e as oportunidades virão com a beleza de cada dia. Volto à cidade, vou à praia, vejo barcos ancorados, rústicos.
- Queria me deliciar em um deles, nós queríamos dar uma volta de barco.
Alguém parece adivinhar meu pensamento, me olha e diz: - Quer dar uma volta de barco?
- Não sei.
- Só não pode atravessar o Canal da Mancha - risos. Estou brincando, são coisas de brasileiros. Brincar.
É... Sempre assim quando a gente sai meio sem destino. Pensei: acho que terminou meu passeio forçado, tá na hora de voltar para minha casa, com cuidado ao passar na rua. É assim que vivemos nas passagens das ruas e avenidas, pisando em ovos.

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