QUANDO SE FALA EM CORDA BAMBA, estou
fora. Não entro em barco furado. Que "beleza"! Olhando meus rabiscos, vejo paisagem pintada
com lantejoulas feita por meu filho, quando ele era pequeno, tinha mais ou
menos oito anos. Embaixo assinado: Mamãe, não me deixe nunca. Sempre me destaque
em suas ações. Nesses jogos de mentiras não entro nunca, nem que a vaca tussa. Isso
ele escreveu porque me ouvia falando. Tudo que eu vi foi uma pintura linda
pregada com cola, na maior ternura de uma criança, carinhosamente com a mãe. Num
daqueles impulsos, pintei uma rosa.
Ele viu aquela rosa e perguntou para
quem era ? Eu logo respondi: - É para
você!
- Por que uma rosa ?
- Não sei.
E o que é pior, me zanguei porque ele
me fez essa pergunta. Na verdade, eu queria elogios ou outra pintura que ele me
fizesse, sei lá e ele me pergunta.
- Não gostou da pintura que eu fiz ?
- Amei, meu filho.
Ele olhou bem atento para mim e disse:
- Calma, Mamãe! Se não gostou, não vou
ficar com raiva. Na verdade, eu queria fazer uma pintura para o nosso
apartamento novo. Estava pensando na sensação que a pintura iria lhe trazer.
- Que sensação ?
- A sensação de seus amigos verem na
parede do apartamento uma pintura minha.
- Mas no seu quarto, né ?
- Não, Mamãe. Na parede da sala.
- Não. Na parede da sala, não!
- Por que?
- Porque essa pintura é horrível. Feita
com lantejoulas, isso não é pintura.
- Foi o que eu pude fazer. É para o
nosso apartamento novo e vai ficar na sala para suas amigas verem.
Foi triste o que eu fiz. Tirei a
alegria e a esperança de uma criança. Pior ainda, do meu filho. Foi um choro
intenso, com uma dor sem fim. Parecia que o mundo tinha caído sobre sua cabeça.
Joguei areia no seu sentimento. O que fiz foi desastroso. Se não era
importante para mim, era para ele. O que tinha aquele desenho ficar pendurado
na sala ? Ele também estava se sentindo dono daquele lugar, era dele também.
Corri para consertar, mas era muito tarde.
O estrago estava feito. Melhor nunca tivesse mudado, se soubesse que magoaria
tanto meu único e sublime amor.
Depois desse pensamento, fiquei me
perguntando: será que é amor mesmo o que sinto pelo meu filho ? Ou eu ainda não
aprendi a ser mãe ?
Ainda vendo a tristeza no seu rosto,
chamei-o e disse:
- Sua pintura pode ficar pendurada na
parede da sala.
Ele me respondeu:
- Não. Agora eu não quero.
- E vai pendurá-la aonde ?
- No seu quarto, bem de frente para sua
cama.
- Por que?
- Para quando a senhora abrir os olhos
de manhã, lembrar que eu fiz a pintura para a senhora.
- Eu sei que foi para mim, está
escrito: - Eu te amo, Mamãe.
- Não. A senhora me enganou como faz
muitas pessoas, mentiu. Na verdade, a senhora não gostou e não me disse. Não
lhe farei mais pintura e nem desenho. Eu queria ser pintor mas acabou , não
quero mais.
Fiquei arrasada, foi um blefe meu. Só
eu poderia sustentar aquele blefe. Aconteceu comigo, eu fui hostil. Se alguém
acha que ganhar um jogo num blefe se supera... Por um acaso, aprendi que não se deve tirar as
esperanças e os sonhos de ninguém. Ainda mais de uma criança. Isso pode ser um
desastre para a vida toda.
Nesses jogos eu não entro mais. As
lições vem de onde você nem imagina. Também aprendi com ele que sentimentos não
são paredes. São algo muito mais forte que vem de dentro. Que a felicidade tem
que ser rotineira para que possamos vencer as dificuldades.
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