segunda-feira, 19 de agosto de 2013

BLEFES QUE EU NÃO DESEJO A NINGUÉM

QUANDO SE FALA EM CORDA BAMBA, estou fora. Não entro em barco furado. Que "beleza"!  Olhando meus rabiscos, vejo paisagem pintada com lantejoulas feita por meu filho, quando ele era pequeno, tinha mais ou menos oito anos. Embaixo assinado: Mamãe, não me deixe nunca. Sempre me destaque em suas ações. Nesses jogos de mentiras não entro nunca, nem que a vaca tussa. Isso ele escreveu porque me ouvia falando. Tudo que eu vi foi uma pintura linda pregada com cola, na maior ternura de uma criança, carinhosamente com a mãe. Num daqueles impulsos, pintei uma rosa.
Ele viu aquela rosa e perguntou para quem era ?  Eu logo respondi: - É para você!
- Por que uma rosa ?
- Não sei.
E o que é pior, me zanguei porque ele me fez essa pergunta. Na verdade, eu queria elogios ou outra pintura que ele me fizesse, sei lá e ele me pergunta.
- Não gostou da pintura que eu fiz ?
- Amei, meu filho.
Ele olhou bem atento para mim e disse:
- Calma, Mamãe! Se não gostou, não vou ficar com raiva. Na verdade, eu queria fazer uma pintura para o nosso apartamento novo. Estava pensando na sensação que a pintura iria lhe trazer.
- Que sensação ?
- A sensação de seus amigos verem na parede do apartamento uma pintura minha.
- Mas no seu quarto, né ?
- Não, Mamãe. Na parede da sala.
- Não. Na parede da sala, não!
- Por que?
- Porque essa pintura é horrível. Feita com lantejoulas, isso não é pintura.
- Foi o que eu pude fazer. É para o nosso apartamento novo e vai ficar na sala para suas amigas verem.
Foi triste o que eu fiz. Tirei a alegria e a esperança de uma criança. Pior ainda, do meu filho. Foi um choro intenso, com uma dor sem fim. Parecia que o mundo tinha caído sobre sua cabeça. Joguei areia no seu sentimento. O que fiz foi desastroso. Se não era importante para mim, era para ele. O que tinha aquele desenho ficar pendurado na sala ? Ele também estava se sentindo dono daquele lugar, era dele também.
Corri para consertar, mas era muito tarde. O estrago estava feito. Melhor nunca tivesse mudado, se soubesse que magoaria tanto meu único e sublime amor.
Depois desse pensamento, fiquei me perguntando: será que é amor mesmo o que sinto pelo meu filho ? Ou eu ainda não aprendi a ser mãe ?
Ainda vendo a tristeza no seu rosto, chamei-o e disse:
- Sua pintura pode ficar pendurada na parede da sala.
Ele me respondeu:
- Não. Agora eu não quero.
- E vai pendurá-la aonde ?
- No seu quarto, bem de frente para sua cama.
- Por que?
- Para quando a senhora abrir os olhos de manhã, lembrar que eu fiz a pintura para a senhora.
- Eu sei que foi para mim, está escrito: - Eu te amo, Mamãe.
- Não. A senhora me enganou como faz muitas pessoas, mentiu. Na verdade, a senhora não gostou e não me disse. Não lhe farei mais pintura e nem desenho. Eu queria ser pintor mas acabou , não quero mais.
Fiquei arrasada, foi um blefe meu. Só eu poderia sustentar aquele blefe. Aconteceu comigo, eu fui hostil. Se alguém acha que ganhar um jogo num blefe se supera...   Por um acaso, aprendi que não se deve tirar as esperanças e os sonhos de ninguém. Ainda mais de uma criança. Isso pode ser um desastre para a vida toda.

Nesses jogos eu não entro mais. As lições vem de onde você nem imagina. Também aprendi com ele que sentimentos não são paredes. São algo muito mais forte que vem de dentro. Que a felicidade tem que ser rotineira para que possamos vencer as dificuldades.





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