HÁ TEMPESTADES E TEMPESTADES

As coisas não andavam bem, o semblante no rosto não deixava dúvidas de que nada estava em seu lugar. Estava habitada por uma tempestade. Tempestade essa que parecia não passar nunca. Recomeçava tudo outra vez, na mesma função. Dava um tempo, nada se enquadrava. Mudava, tentava em outra, fazia estratégias, mas não perdia a pose nem a esperança que tudo pode mudar. Insiste e leva a frente os sonhos mais difíceis. Travava uma batalha incessante, engolia sapos, começava do nada, explorava dentro de si seu sítio literário. Jogava tudo pra cima, pegava uma faca e cortava o queijo.
- Sou um osso!
-Você pode sofrer, se queimar.
- Mais do que já estou, é impossível.
- Olhe! você trava uma batalha onde você já deveria estar a  muito tempo! - disse uma desconhecida.
- Tenho que arriscar! Se eu não for à luta não vou saber. Mesmo assim agradeço o seu alerta. Estou pronta para o que der e vier.
- Está arriscando no escuro. Essas pessoas tem as suas, já tem um QI.
- É nesse barco que estou pulando, sem esse QI...  Pouco importa os outros, pouco importa suas conquistas. Não quero nada de ninguém. Estou no meu lugar, o lugar onde eu possa realizar meus ideais, colocar em prática. Trabalho, só apenas trabalho gratificante.
- Então, querida, acenda sua tocha! E veja se ela vai demorar...
- Qual é o problema? Você acha que a chuva não veio para todos? Que o sol brilha para uns e para outros não?
- Existe tempo para tudo e todos tem seu tempo.
- Você quer dizer que o meu tempo já passou? No momento eu estou presa dentro de uma caverna que não chove e nem faz sol. Tenho que travar uma busca e dessa vez vou buscar o que eu quero. O que eu deixei e ficou para traz, se o tempo passou, paciência. Se eu não buscar, não correr contra o pouco tempo que me resta, não sirvo para viver. É como se eu visse alguém com fome nas ruas e passasse comendo junto dele e não dividisse. É mesmo que ajudar a matar o faminto...  Eu estou assim...  Tenho fome, tenho sede e posso buscar, ainda não morri.
- Se você conseguir?! Eu digo que é forte, pega touro brabo e amansa.
- Por que pensas assim?
- Porque estamos na era do besteirol. Os valores, as boas peças de teatro, as boas músicas ficaram na lembranças dos antigos. É como os valores familiares, que se perderam no tempo e no espaço.
- Até concordo com você em partes...  Você já escutou uma estória em que toda vez que os brancos chegavam uma ilha, a coruja cantava e chovia, chovia torrencialmente?
Sorriu e disse:
- Não.
- Eu já pensei em descobrir uma ilha, ir lá e ver se eu vejo essa coruja cantar.
- Para quê?
- Para levá-la para o nordeste!
- Há há há...  Só rindo mesmo, gostei de você...  Quem sabe consiga, tia. (pausa).
Pôs-se a andar de um lado para outro, inquieta. Com pouco minutos, alguém chamou, entrou na sala. Poucos minutos depois saiu esperançosa, apressada. A pessoa com quem ela tinha travado uma conversa antes, parou e indagou:
- E aí?
- Espera! Não posso te falar porque ainda está adormecido, mas já está meio caminho andado. Só falta apressar os passos. Já que sabe que tudo é QI, quem sabe você não seja a pessoa ideal a empurrar...
Saiu. Estava passando a tempestade, os trovões. Apesar dos receios, depois daquela conversa com a desconhecida, parecia a ter encorajado mais. As críticas, as conversas destrutivas muitas vezes ajudam, e como ajudam. Você se impõe e mostra que vai virar o vento a seu favor!!!